Segundo SANDERS (1996, p.79), para que um programa de computador possa ser considerado uma ferramenta de desenho digital, deve preencher basicamente os seguintes critérios:
1) A ferramenta de design deve ser usada pelo designer, não por um substituto. 18 2) A ferramenta deve permitir ao designer definir relações entre os componentes
do design que afetam o desempenho ou aparência do design, relativos a critérios explícitos ou implícitos.
3) A ferramenta de design deve prover resposta interativa (de preferência dinâmica), no que concerne ao desempenho ou aparência do design, enquanto o designer modifica sua geometria.
Nessa questão do design e do projeto de arquitetura, é importante definir-se o limite de quando um software atua como uma ferramenta de design ou simplesmente é utilizada para apresentação e representação. Algumas dessas ferramentas têm a capacidade de produzir modelos tridimensionais dos edifícios que podem servir tanto para o desenvolvimento do projeto como para apresentação. Numa comparação apropriada, SANDERS esclarece este ponto, colocando a questão: quando um modelo ou maquete física é um instrumento de design ou apresentação? Simplesmente quando o arquiteto pode manipulá-lo, adicionar partes, colar, cortar, estabelecendo comparações entre o modelo desejado na mente do arquiteto com o modelo físico. É o que caracteriza a experiência de design ou projetar, e embora as ferramentas de desenho digitais envolvam outra mídia, podem partilhar as mesmas características relacionadas por SANDERS (1996, p.80):
18 N.A. tradução livre do original “surrogate”, no sentido da ferramenta ser utilizada apenas por um auxiliar, empregado ou colaborador.
- Resposta dinâmica (por exemplo, segurando o modelo nas mãos, girando-o ou andando em volta do mesmo)
- Acesso aleatório (o arquiteto pode mudar o modelo em seqüência arbitrária) - Relações conectadas (se o arquiteto tira uma parede o telhado pode cair) - Iteração (o arquiteto pode repetir uma idéia atrás da outra)
Os critérios e características apresentados por SANDERS podem contribuir para avaliar ou perceber a forma como as ferramentas de desenho digitais estão sendo utilizadas nas instituições de ensino de arquitetura.
Para que se possa entender a finalidade dos programas de computadores que serão citados nesta pesquisa e mais especificamente nos questionários e entrevistas com os alunos, utilizamos uma classificação referida por SANDERS, extraída do guia Digital Design Media, de autoria de Willian Mitchell, reitor da Escola de Arquitetura e Planejamento do MIT, e Malcolm McCullough, professor associado de arquitetura da Escola de Design da Universidade de Harvard. Esta classificação baseia-se, não em categorias ou tarefas a que se aplicam, porém na dimensão da mídia digital manipulada pelo software. Assim temos:
-Mídia mono-dimensional, que inclui palavras, textos e sons.
-Mídia bidimensional, que inclui imagens, linhas desenhadas, polígonos, plantas e mapas.
-Mídia tridimensional, que se relaciona, com linhas no espaço, superfícies, renderizações 19 e montagem de sólidos.
19 Renderização é o processo de calcular os elementos tridimensionais, que são criados como “estrutura de arame” ou arestas nos programas gráficos, para que sejam vistos como sólidos. O tipo mais comum é a renderização
fotorealística que imita o mundo real. A renderização não-realística inclui o estilo cartoon (desenho em quadrinhos ou animado) entre outros efeitos. (KUPERBERG, BOWMAN, MANTON, PEACOCK, 2002, p. 54)
-Mídia multidimensional que trata de modelos em movimento, animações e hipermídia.
Segundo SANDERS (1996, p.71), essa classificação é útil para se entender a dificuldade de uso dessas ferramentas digitais, em geral tanto maior quanto maior a dimensão da mídia. A própria natureza do trabalho dos arquitetos faz com que as mídias digitais manipuladas pelos programas incluídas nessa classificação não lhe sejam estranhas, porém a maneira de manipulá-las e adaptá-las à suas tarefas é que traz maior dificuldade de compreensão. Algumas ferramentas de desenho digitais têm recursos que se encaixam em mais de uma mídia nessa classificação, como por exemplo, programas de CAD que além de possibilitar desenhos bidimensionais digitais, podem gerar modelos virtuais tridimensionais, bem como ter editores de texto embutidos em seus recursos. Para simplificar a classificação, optou-se pela principal mídia digital manipulada, quando as demais mídias forem secundárias, ou por mais de uma mídia quando as ferramentas apresentarem bons recursos de trabalhar nas categorias correspondentes.
Dentro da categoria bidimensional, é necessário fazer uma sub-classificação entre programas que trabalhem com vetores e bitmaps 20 (imagem rasterizada) (fig. 13-16, pg.
52-53). São diferentes maneiras pelas quais os programas gráficos armazenam as imagens (KUPERBERG, BOWMAN, MANTON, PEACOCK, 2002, p. 33). Programas técnicos
20 A cor das imagens no computador é determinada por bitplanes (planos de bits), que são matrizes ou grids onde cada célula tem uma informação numérica de 1 dígito. Cada célula corresponde a um pixel, ou elemento da imagem, onde o valor numérico corresponde a uma cor controlada pela célula. Vários bitplanes podem ser usados determinar a cor de cada pixel, que podem ser pensados ou denominados como bitmaps (mapa de bits) (KERLOW, I. V., 2000, p.
400)
geral, necessitam ser convertidos em formato de bitmaps para serem visualizados na tela ou impressos. (KUPERBERG, BOWMAN, MANTON, PEACOCK, 2002, p. 33). Em geral, os programas de ilustração têm a finalidade principal a que o próprio nome se refere - de ilustrar ou apresentar trabalhos, em oposição aos programas de CAD, que se aplicam a todas as fases do projeto de arquitetura.
Assim, as definições vistas aqui, bem como as classificações das ferramentas de desenho digitais, foram de grande valia, nessa pesquisa, para a formulação, compreensão e análise dos questionários e entrevistas. Permitiu perceber diferenças entre software, no que se refere à finalidade e efetividade a que se propõem.
Para finalizar esse capítulo, são apresentadas algumas imagens ilustrativas dos termos técnicos referidos, e na página seguinte a tabela 1, de classificação das ferramentas de desenho digitais, conforme a dimensão da mídia manipulada pelo programa:
TABELA 1 – QUADRO RESUMO DAS FERRAMENTAS DE DESENHO DIGITAIS
Classificação das ferramentas de desenho digitais citadas nos questionários e entrevistas, conforme sua dimensão de mídia manipulada
FIGURA 13 – ARQUIVOS BITMAP
Representação de uma linha preta num arquivo tipo bitmap. A linha é formada pela informação de cada pixel. Fonte: autor
FIGURA 14 – ARQUIVOS VETORIAIS
Representação de uma linha preta num arquivo tipo vetorial. A linha é formada pela informação das coordenadas A e B. Fonte: autor
FIGURA 15 - IMAGEM TIPO VETORIAL
Gerada por um software gráfico na classificação tridimensional. Fonte: autor
FIGURA 16 - IMAGEM TIPO BITMAP
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